quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sabará, uma história de amor e ódio

Depois de mais de uma semana sem postar nada, resolvi voltar. E como é de costume, vou meter a colher de pau em uma conversa que é da nossa conta, mas que dizem que é melhor a gente esquecer e fazer de conta que não é.

Vejamos bem: na primeira postagem eu comecei com "bom sabarense". Depois que você ler o que tenho pra escrever hoje vai se perguntar "é a mesma pessoa?". Olha, só não vou jurar porque cristão não jura (viu!?), mas quase que juro que tentei ser "bom sabarense"... E por falar em sabarense, ontem recebi um conselho bem sabarense. Calma! Talvez eu conte no final. Talvez...

Sempre ouvimos dizer que amor e ódio são sentimentos tão intensos que chegam a ser muito próximos. Geralmente o ódio nasce após o fim de um grande e ardente amor mal resolvido. Dizem também que quem nunca odiou, nunca amou. Aí você me pergunta - "e daí, Rodrigo". Eu te digo: "calma! Deixa de ser apressado (a)!... Então tá... já que você insiste tanto..."

Se olharmos a vida política de Sabará (e não espere que eu conte desde Borba Gato, porque não com saco), vamos observar que os fatos desde a redemocratização (gastei, !?) nos mostram que amor e ódio andam juntos (principalmente na política). Muito bem; vamos ao que interessa. Talvez você não seja sabarense, mas acredito que o que vamos contar ocorre em mais lugares que podemos imaginar.

Havia um prefeito que se chamava Marcelo Dias. Marcelo Dias amava Diógenes Fantini que virou prefeito. Fantini amava Luiz Alves que também virou prefeito. Passado algum tempo, Luiz Alves e Fantini já não se amavam mais.

Fantini como era muito querido, transformou o ódio em sentimento de traição. Isso foi tão forte que não deu outra: Fantini voltou a ser prefeito. Outro final de mandato e " Agora, Fantini? As eleições estão aí... dentre tantos amores não há ninguém digno de ocupar o trono!" Foi então que Fantini amou Wander Borges. E o que aconteceu? Wander virou prefeito! E esse amor foi muito maior. Dizem que Fantini falou que se quisesse colocar uma cabrita na prefeitura, colocava! O amo é lindo e cheio de declarações de afeto, não acha? E Fantini logo pensou: "um amor assim nunca acaba. É bem diferente do primeiro. Agora tá tudo certo; é só a gente alternar no trono."

Só que não foi bem assim. O amor que parecia inquebrável era vidro e se quebrou graças a uma emenda constitucional. A emenda que era pra favorecer políticos que não queriam sair do poder, foi a responsável pelo fim do casamento Wander-Fantini. Desde então, nasceu o ódio entre os dois.

No trono e com a possibilidade que a emenda "FHC outra vez" trouxe, Wander logo pensou "agora é Wander de novo. Não preciso amar ninguém". Continuou no trono derrotando Fantini que tanto o amou.

Mas como no Brasil o sistema é republicano, chegou a hora de Wander passar o trono. Era preciso pensar bem pra não amar errado. Amar errado podia resultar em traição que podeia levar a perda do controle da cidade. Foi então que Wander amou Sérgio Freitas que também virou prefeito. Durante a eleição ninguém sabia quem era Sérgio, mas Wander sabia. E como ele conhecia bem Sérgio e apresentou logo a cidade votou. "Se Wander apresenta... só pode ser coisa boa... " Mas não foi. Sérgio foi odiado por todos que amavam Wander. Podia fazer certo, mas todos achavam que ele estava errado.

Sérgio continuou fiel por todo o tempo que governou. Dizem que apenas sentou no trono, mas o reino continuava com Wander. Sabará já era pequena pra Wander que alçou voos maiores tornando-se o primeiro deputado da cidade. Voando e olhando como águia, Wander percebeu que seu leal prefeito não ganharia eleição. O risco agora era de perder a prefeitura para a oposição.

Conhecendo a tradição de amor e ódio pensou "não podemos deixar a oposição ganhar. Precisamos de alguém confiável que não atrapalhe nossos planos de poder." Mas quem podia ser? Bom gente, se um homem não puder confiar na sua própria família, vai confiar em quem? Portanto, ninguém melhor que o irmão. Então Wander amou William, que também é Borges. E a história se repetiu: William virou prefeito derrotando quem mais odeia seu irmão - Fantini. Parece até coisa de televisão. Derrotou, mas o placar foi apertado. Por pouco Fantini voltava ao trono. E parece mentira, Fantini tinha o apoio de Sérgio que já não amava Wander.

Aí você pergunta - "e a oposição?" Melhor, a antiga oposição agora é situação. William e Wander despertaram um affair por Argemiro que virou vice.

Hoje a história é a seguinte: Wander amou William que virou prefeito. Os dois tem um affair por Argemiro que pode virar amor. Os três odeiam Fantini que odeia os três. E Sérgio? Esse já nem mora em Sabará (dizem que nunca morou)... então deixa pra lá.

E pra fechar: dizem que a velha minissérie "O bem amado" virou filme que estará nos cinemas em breve. Acho que seria bom que todos pudessem ver com um olhar bem sabarense. Qualquer semelhança não passa de mera coincidência.

Quanto ao conselho que me deram e que eu ia pensar em contar no final... não sei se conto agora... vou pensar...

Saudações e não deixe de seguir o blog pra me ajudar a meter a Colher de Pau.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Que falta faz...

VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manoel Bandeira. "O Bicho"


Que falta fazem os Ches
Que falta fazem as Olgas
Que falta fazem os tantos Lulas
Que falta fazem os velhos sindicatos
Que falta fazem os velhos e baderneiros estudantes

Que falta fazem as vozes daqueles que tem sede de justiça
Que falta fazem os que abriam a boca em favor dos fracos e oprimidos
Que falta fazem aqueles que lutam pela paz e justiça sem se envergonhar

Que falta fazem os que criticam os governantes com responsabilidade e sem se intimidar
Que falta fazem tantos dos quais ninguém consegue mais lembrar
Que falta faz à memoria os que não desistiram de lutar

Que falta faz a memoria
Que falta mesmo?
Que?

Rodrigo Souza Leite


terça-feira, 5 de maio de 2009

Como criar e manter um boato

Para bom Sabaranse, poucas palavras explicam tudo. Vou começar com uma história que aprendi com minha mãe quando ainda era criança. Os mais velhos devem conhecê-la, mas os mais jovens talvez nunca ouviram falar. Esta história ilustra bem o momento que vivemos em nossa cidade.

 
João, assim como muitos homens de sua geração, acreditava que um segredo contado a uma mulher se espalhava mais rápido que fogo no cerrado. Para acabar com o último vestígio de esperança de que sua mulher era uma exceção a regra, resolveu tirar a prova. Teve uma brilhante ideia antes de deitar. Deitou-se calado, fez uma cara de incômodo e continuou quieto como quem queria dizer alguma coisa...

- João? Que foi, meu amor? - indagou Maria.

- Nada não Maria... esquece...

- Como assim? Você tá sentindo alguma coisa? - insistiu.

- Maria, a gente já está casado a cinco anos e entre nós não deve haver segredos. - afirmou João.

-Claro João! Mas fala logo o que está acontecendo!

- Maria, jura que isso é um segredo só nosso.

- Claro, meu amor! O que é nosso é nosso! Não conto pra ninguém.

- Olha só o que tá acontecendo...

- Ai João, o que é isso?

- Maria - disse João com os olhos lacrimejando - Botei um ovo, olha só.

- Ai, meu Deus! Como isso aconteceu? - perguntou Maria assustada.

- Não sei, meu amor. Mas amanhã vou procurar um médico...

- Eu vou com você João...

- De jeito nenhum! Vou sozinho...

O dia amanheceu e João foi para o trabalho prometendo que no fim da tarde procuraria um médico afim de ter resposta para o inexplicável. Maria, por mais que tentasse não pensar no acontecido, tentava buscar respostar para o que não tinha resposta. Pensou muito, começou a ficar sufocada. Lembrou do que havia prometido e tentou não pensar. Mas a preocupação só crescia e a sufocava cada vez mais. Não aguentou e procurou sua melhor amiga...

- Marli...

- Oi Maria, como vai.

- Bem...

- Maria, eu te conheço. O que tá acontecendo, menina?

- Ai nem sei como te contar. Olha bem, tô te contando porque você é minha melhor amiga.

- Ai Maria, nossa, assim você até me ofende! Gente, quantas vezes vou ter que te dizer que o que a gente conversa entre nós fica só entre nós!?

- É que eu prometi pro João que não contaria pra ninguém!

- Bobagem, bobinha. Ai... conta logo! Desabafa, mulher!

- Parece mentira, mas eu vi o João botar dois ovos!

- Que isso! Você tá ficando doida! Onde já se viu gente botar ovo! Ainda mais um homem daquele tamanho... com todo respeito, claro!

- Parece mentira, mas eu vi os ovos saindo, Marli - afirmou em lagrimas.

- Tem certeza?

- Absoluta. O João vai hoje ao médico pra poder saber o que está acontecendo!

- Bom. O marido é seu e você tá me dizendo que viu três ovos saindo...

- Três não, Marli, você já tá aumentando. Dois ovos!

- Tá... tá... dois ovos. Não faz diferença. O importante é que você viu os ovos saindo. Gente... tô bege... olha que eu achava que já tinha visto de tudo nesse mundo. Amiga, fica tranquila. O que tiver que ser será. Vamos aguardar o que o doutor vai falar pro João. Jura que não vai me esconder nada?

- Juro, amiga. E jura que vai me ajuda!?. - suplicou Maria.

- Claro! E pode deixar. Este é um segredo nosso.

- Ai, Marli, ainda bem que posso confiar em você.

Mas o que Maria não sabia é que Marli tinha uma outra amiga que ela confiava demais e tinha certeza que ela não contaria nada a ninguém. Marli por sua vez também nunca imaginava que sua amiga tinha uma outra amiga. E assim a rede de confidências aumentava exponencialmete.

No fim do dia, João que trabalhava na cidade vizinha, chegou naquela cidade e a notícia comentada por todos,  e que sairia na primeira página do jornal local era "O Caso do João galinha" que numa única noite havia botado uma dúzia de ovos.


Portanto, para se criar um boato, não é necessário inventar grandes e mirabolantes mentiras. O segredo da criação de um boato está em fazer de uma pequena verdade o todo de uma grande farça.
Agora que aprendemos a receita para se criar um boato, vamos para o segundo ponto: como manter, ou melhor, como alimentar um boato:
  • Primeiro: negue a existência do ovo e todos acreditarão ainda mais no boato.
  • Segundo: finja que nada está acontecendo e faça tudo como antes.
  • Terceiro: nunca diga não aos clientes. Se der para antendê-los bem... diga que vai dar.
  • Quarto: se cerque de alinhados. Aliados pensam por si e podem incomodar muito.
  • Quinto: esqueça o que Maquiavel escreveu sobre os mercenários e continue a contratá-los.
Pode ser que por sorte, nada aconteça e o boato desapareça. Mas pode ser que ele tome proporções que tornem as coisas ingovernáveis. Aí será tarde demais.

Rodrigo Souza Leite