Sabará e as sanguessugas

"A sanguessuga tem duas filhas: Dá e Dá. Estas três coisas nunca se fartam; e com a quarta, nunca dizem: Basta! A sepultura; a madre estéril; a terra que não se farta de água; e o fogo; nunca dizem: Basta!" (Provérbios 30:15-16)

Ao folhear o principal jornal da cidade, Folha de Sabará (embora a maioria dos sabarenses leiam Super Notícias), fiquei chocado com as informações contidas nesse imparcial veículo de comunicação. O que pude observar: as sanguessugas descritas por Agur em Provérbios de Salomão, há aproximadamente 3 mil anos, se multiplicaram e a descendência ocupa quase todos os postos de poder na cidade. Não é de se espantar? O mundo preocupado com a quantidade de seres em extinção e as sanguessugas, tão combatidas, não param de proliferar.

Desde que comecei a meter a colher de pau onde dizem que não devo, recebi vários elogios (anônimos na maioria) e muitas críticas (estas todas anônimas). Pelo visto meter a colher de pau pode dar resultados. Muito obrigado aos fãs e aos críticos, pois são vocês que dão o tom das colheradas. Um crítico anônimo escreveu que "águas passadas não movem moinhos". Mas meu amigo, será que não movem? E se não movem pergunto: será que os moinhos do passado é que estão sendo movidos pelas águas de hoje?

Vamos dar uma olhadinha na Folha de Sabará do dia 5 de junho e vamos ver se estou cometendo mais uma sandice (como andam dizendo por aqui e por aí).

Dê uma olhada na reportagem Como seriam as cidades sem os garis? E lá vemos, para nos poupar de ficar pensando vários dias sem a capacidade achar uma resposta, que a Secretaria de Meio Ambiente propôs um brilhante experimento: deixou o centro histórico por mais de 24 horas sem o serviço de varrição. Você deve estar se coçando de curiosidade. Surpresa! Descobriram o que ninguém havia imaginado até então: a cidade ficou imunda! Olha, temos que dar os parabéns para os mentores dessa ideia, pois sem essa grande contribuição "técnico-científica" ninguém poderia imaginar a importância que o gari e todo o serviço de limpeza urbana traz para a cidade.

Agora que tal senhor (ou senhora, porque a gente nunca sabe se há ou não alguém respondendo oficialmente pela pasta) estender o serviço para outros lugares da cidade? Ah! Também não podemos deixar de agradecer à nossa querida Folha de Sabará pela cobertura responsável e imparcial dos fatos. Que tal, Folha de Sabará, fotografar o centro histórico diariamente por uma semana e lançar outra matéria "Como seria Sabará se o serviço de limpeza urbana funcionasse?" Quem sabe assim Sabará ficaria com uma cara mais limpa e voltava a atrair os turistas?

Agora vire a página. Virou? Santa Casa de Sabará dificulta acordos. Há uma entrevista com o Secretário de Saúde demonstrando que o impasse nas negociações com o hospital são culpa da Santa Casa. E o outro lado da história, por que não foi ouvido? Não sou jornalista, mas um assunto como esse merecia que os dois lados fossem ouvidos antes do jornal afirmar para nós que é a Santa Casa quem dificulta acordos.

Minha cara jornalista, desculpe-me, mas os grandes jornais que costumo ler dizem que a boa prática da impressa recomenda consultar as fontes antes de tirar conclusões.

Outra coisa que me assusta nessa matéria é que o secretário de saúde afirma que montar uma UPA pela prefeitura inviabilizaria ainda mais a Santa Casa! Agora falo como profissional da saúde: é de assustar um gestor afirmar uma coisa dessas numa cidade com mais de 125 mil habitantes! Se a visão for uma UPA localizada ao lado do hospital até que concordo, mas será que não dava para pensar um pouco mais longe? UPA's em General Carneiro, Alvorada, Nossa Senhora de Fátima e outras áreas populosas e conurbadas a Belo Horizonte? Um pouco de estudo, pesquisa e ouvir o clamor das ruas, além de boas práticas de gestão de serviços de saúde, podem ser ferramentas bastante úteis para o exercício desse tipo de cargo. Que tal um pouco de novas teorias e visão de negócio? Acho que pode ajudar...

Agora dá uma olhada na página 3 - Notícias da Câmara - Reunião do dia 26/05/2009 e Reunião do dia 02/06/2009. Antes de metermos a colher de pau, você sabia que o salário líquido de um vereador é mais de 5 mil reais? Que a maioria deles trabalha menos de 10 horas por mês? ou seja, a hora de trabalho de um vereador de Sabará é aproximadamente R$ 500,00 ou mais. Sei que tem muita gente se perguntando "quem mandou eu ser burro e estudar!" Gente, um vereador em Sabará chega a ganhar por hora o que se paga para muitos professores por um mês de trabalho! O piso salarial de um professor com nível superior que trabalha na educação básica do Estado de Minas Gerais não chega a R$ 600,00!

Nós sabemos o quanto um professor lutou e luta para ganhar isso. Agora dá uma olhada na qualificação dos nossos representantes na câmara... Olha o que eles estão fazendo e veja se merecem o que ganham? Na página destinada aos feitos de nossos parlamentares você verá: indicações e requerimentos. Não há convocação de autoridades para esclarecimentos, fiscalização dos atos do executivo e nem um projeto de lei apresentado. Eu me pergunto, onde está o poder legislativo dessa cidade? E o que estes representantes estão fazendo para merecerem o que ganham? Espere 2012; eles estarão na sua porta - "Dá e Dá", e não se faltarão jamais.

Agora respira bastante e leia a página 6. Essa matéria é uma exclusividade da Folha de Sabará (você não encontra em outro jornal do país): Eliseu Resende é o relator da MP452 que modifica a Política Nacional de Meio Ambiente. Agora pergunto, como um congresso com uma ambientalista reconhecida internacionalmente como Marina Silva entregou a relatoria de uma MP dessas a Eliseu Resende? Gente, até lá "Dá e Dá" e família estão tomando conta! Alguém conhecido como "o político das estradas" tratando de meio ambiente? O que pensar disso? Agora uma pergunta que não quer calar: por que justamente na Folha de Sabará uma matéria como essa dá mais importância ao político do que ao tema meio ambiente? Será que isso tem alguma coisa haver com 2010? Ou será mais uma dessas coincidências sabarenses?

E pra fechar: Folha de Sabará, que tal oferecer aos seus leitores um jornalismo independente, imparcial? Vamos informar mais e "catequizar" menos. As igrejas já cumprem esse papel.

Caros amigos, que tal iniciarmos a luta pelo fim das sanguessugas? Parece difícil, mas podemos começar a dizer não a suas filhas. O Brasil dizia fora FMI e um dia de forma muito elegante pode fazer isso. Hoje o Brasil de devedor virou credor. Agora é a vez de gritarmos "Fora Dá e Dá". Uma hora dessas ficamos livres delas e de seus pais.

Um abraço a todos

PS: você seguidor (a), traga mais um e ajude a meter a colher de pau!